quarta-feira, 9 de julho de 2014

#copadascopas

Terça-feira, 08 de Julho de 2014. 

Chove cântaros no Rio de Janeiro. Provavelmente chove em todo o país. A torrente de água que cai dos céus mistura-se a uma calmaria incômoda, um silêncio inconveniente que escancara tristeza e perplexidade com as consequências do futebol. 

Perdemos. 

De sete.

Fomos atropelados, massacrados, humilhados pela polidez tática e técnica da Alemanha, engrandecidas pelo apagão do futebol brasileiro. Verdadeira ausência de luz. Fosse debaixo d’água, o barulho do estádio de Belo Horizonte seria o da chuva tocando o verde sob os olhos estatelados dos 200 milhões.

Difícil dormir.

A expectativa era das maiores: estufar o peito e comemorar o hexacampeonato em uma Copa do Mundo realizada em solo pátrio. Uma competição que correu sem sobressaltos, para assombro do mais pessimista dos compatriotas.

A realidade não pede licença, chega e estapeia. Sete a um fulminante. O choro ao fim da partida, o riso que esconde a decepção e o desalento. Não é fácil discernir o que se passa na cavidade, mas é algo agoniante.

Meu avô dizia: “meu neto, não chore com o futebol”. Era um dos homens que haviam vivenciado a dolorida derrota para o Uruguai em pleno Mário Filho, em 1950. Um torcedor acostumado às artimanhas da bola.

Mas a bola pune, já diria o mais cretino dos torcedores. Puniu.

Em um mar amarelado, os onze portadores do orgulho nacional trotaram o gramado com o brado retumbante na garganta. Do hino regido pela massa de torcedores espalhados por todos os cantos dessa ilha-continente, fez-se a máxima esperança de um final apoteótico: chegaríamos a final.

Não chegamos.

Durante a execução do canto, segurava-se camisa do jogador ausente. Um craque em formação que, estivesse em campo, não alteraria o que nos reservara a cruel instituição chamada futebol.

Essa entidade xamânica, estranha, que nos enfeitiça, enlouquece e nos torna meninos de novo. Algo como a paixão. Ficamos reticentes de entregar-nos completamente, mas acabamos embriagados pelos seus encantos. Muitas vezes nos arrependemos. Em outras, nos pegamos em meio a lágrimas.

A maioria esmagadora, inebriada pelo fulgor nacionalista, prospectava a glória. Outra, odiosa minoria, previa um desfecho menos feliz. Já imaginava, pelo silêncio, a incompletude da jornada. Sofria quieta. Talvez suspeitasse das capacidades alemãs. Ou simplesmente estivesse tomada por sutil pessimismo.

Com o iniciar do embate, o que se viu foi a reedição de uma blietzkrieg. “Guerra relâmpago”. De um lado, investidas rápidas e brutais, organização ímpar, controle emocional e foco. De outro, uma equipe rendida completamente, incapaz de esboçar a mínima reação, incrédula com a própria destruição que sofria. De impávida, nada tinha.

Os golpes sofridos em campo, um a um, numa medonha gradação que chegaria ao monstruoso sete, mostravam os limites do futebol brasileiro.

Se nos considerávamos os reinventores do futebol, nesta terça-feira vimos que tínhamos muito que aprender.

A tormenta que sucedeu ao choro veio a calhar.

Nenhum comentário: