sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Crônica de um amor instantâneo

Homem andando pela rua, mãos nos bolsos.

Vê uma mulher jovem no lado oposto. Parece linda. Olhos grandes, cabelos soltos iguais aos de comercial de xampu, um jeito de andar envolvente, as ancas milimetricamente organizadas no todo. Está impecável. Uma pulseira, um cordão, um andar confiante.


Ela vem andando na direção oposta. Fala animadamente no celular.

O homem olha-a de cima a baixo, como que hipnotizado. Espera ela passar por ele. Fica incomodado com aquilo. Com a cena, com os cabelos soltos e longos, com o sorriso de canto de rosto, com as bochechas lindas. Alguns passos depois, vira-se e diz:

- Você não deveria andar na rua falando no celular.

A mulher interrompe a conversa bruscamente, tira o telefone do ouvido e olha para ele, sem entender.
Ele continua.

- Você pode ser roubada.

Ela finge que não é com ela, ignora e continua andando na direção oposta a dele, celular ainda no ouvido, a conversa mantém-se com o interlocutor distante.

O homem indigna-se com aquilo. Como poderia ignorar? Ele havia dado o alerta e nada.

A jovem continuou a andar com certo ar de destemida, aparentemente impassível ao conselho.

Vira-se novamente para trás, vê a moça mexendo nos cabelos soltos, o mesmo andar envolvente e transgressor. O mesmo mover de ancas, pernas, coxas, pés, bunda. Uma falta de consideração. Sentiu-se humilhado.

Olhou a rua no entorno. Não havia alma viva. Ninguém. Mal passavam carros. Estavam completamente sozinhos e ela mal o ouviu.

Com um estalo, saiu correndo em direção à mulher e pressionou-a contra a parede, revólver calibre 38 na mão.

- Passa o celular!- berrou, com um empurrão violento na figura feminina, que caiu no chão despedaçada.

A mulher chorando, apavorada, encolhida contra a parede, em choque. Ele no caminho oposto, gritando, enfurecido, com a pulseira, o cordão e o telefone.

- Eu avisei! Eu avisei!

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